70 anos do Précis de Décomposition / Breviário de Decomposição (1949-2019)

Apresentação

Completam-se, em 2019, 70 anos da publicação — em 1949 — do Précis de Décomposition (“Breviário de Decomposição”, na tradução brasileira de José Thomaz Brum), do filósofo romeno de expressão francesa E.M. Cioran (1911-1995). Este é u m mini-blogue dedicado ao Breviário de decomposição: obra-prima do hibridismo, livro singular e inclassificável, a meio-caminho entre ensaísmo filosófico e lirismo poético.

A criação deste blogue tem como pretexto a realização da Jornada Acadêmica em homenagem aos 70 anos do Breviário de Decomposição (1949-2019), um mini-colóquio organizado conjuntamente pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFABC e pelo Portal E.M. Cioran 🇧🇷, a realizar-se em 27 de novembro de 2019. Além de funcionar como meio eletrônico de divulgação do evento, com programação e  informações de serviço, também reúne um acervo crítico-bibliográfico relacionado ao livro e o autor em questão: biografia, trechos do livro, comentários, análises e críticas, enfim, toda uma gama de conteúdos, acadêmicos ou não, além relacionados ao Breviário de decomposição.

Argumento

breviarioEm 2019, completam-se 70 anos da publicação do Précis de décomposition (o “Breviário de decomposição”): primeiro livro escrito em francês pelo filósofo romeno Emil (E. M.) Cioran – e o primeiro de uma série que o tornaria conhecido como um dos mais importantes escritores/prosadores de expressão francesa do século XX, ao lado de Paul Valéry. Ao mesmo tempo, são 30 desde a primeira tradução do livro em língua portuguesa (Rio de Janeiro, Rocco, 1989), pelas mãos do filósofo, professor da PUC-RJ e amigo de Cioran, José Thomaz Brum. É só então, no Brasil, que o Précis se torna Breviário.

Breviário de decomposição é um livro deslocado, “exilado” e solitário, solidário por oposição, no contexto histórico-cultural em que se insere: a metade do século XX, na França (e na Europa) pós-guerra, em vias de reconstrução. Vox clamantis in deserto — e essa voz solitária, clamando para nós dos desertos insuspeitos deste mundo em vias de decomposição, faz-se ecoar até os dias de hoje, cada vez mais alta, mais impossível de ser ignorada.

O Breviário de Decomposição é, hoje, um livro mais atual (e urgente) do que nunca, a julgar pelo estado de coisas (no Brasil, no mundo) e pelo rumo (sombrio) que a História parece seguir, de modo cada vez mais acelerado. O que será da Humanidade nas próximas gerações? O que o Destino nos reserva?

O horror do presente e a incerteza ansiosa em relação ao futuro, sentimentos que pautaram a escrita deste livrinho, ao final da primeira metade do século passado — hoje nós os conhecemos bem — talvez com até mais familiaridade do que o autor do livro em questão, à época de sua gestação e gênese.

As “profecias do milênio” não se cumpriram (como poderiam?), e aqui estamos, em pleno ano de 2019, desiludidos e desorientados, revoltados e cansados, perdidos e expostos num mundo absurdo e hostil, em vias de decomposição. Aqui estamos, desamparados e ávidos de novas aventuras, novas utopias, desesperados de um futuro possível, de uma nova ilusão.

Pensando nisso, nada mais oportuno do que comemorar o aniversário de 70 anos do “nascimento” de um livrinho que se situa nalgum ponto indeterminado a meio-caminho entre o ser e o não-ser, o vir-a-ser e o deixar-de-ser, o inconveniente de ter nascido e o inconveniente de morrer.

Sobre E.M. Cioran

c32Nascido em 1911, em Rasinari, um bucólico vilarejo na Transilvânia (hoje Romênia, à época Império Austro-Húngaro), Emil (a  partir do Précis, E.M.) Cioran mudou-se para a França, em 1937, radicando-se em Paris, onde faleceria, em 1995, vítima de Alzheimer. Após escrever um punhado de livros no seu idioma nativo (um dos quais atesta uma paixão utópico-revolucionária de juventude, marcada pelo signo do fanatismo profético), Cioran abandona definitivamente o romeno, adotando o francês como língua de escrita. O Précis de décomposition representa essa reviravolta.

Filósofo-artista, pensador-escritor existencial e fragmentário, formado na escola de Nietzsche e Schopenhauer, Shakespeare, Baudelaire, Pascal e os moralistes, Cioran é representativo das vertigens e perplexidades do mundo contemporâneo, marcado pelos horrores de duas guerras mundiais, bombas de destruição em massa, revoluções e ditaduras, genocídios, desastres ambientais e de outras naturezas. Aclamado por muitos e deplorado por outros, o Breviário de decomposição é um livro filosófico e poético marcado por um lirismo peculiar — livro de uma singularidade radical no contexto histórico em que se insere; um conjunto de “exercícios negativos” que representa um confronto e um “ajuste de contas” consigo mesmo (sua identidade, seu passado romeno) e com o mundo, simbolizando também uma pequena morte e o renascimento em outra língua.

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